domingo, 23 de novembro de 2008

Ateus... ou gang "anti-religião"!?

Lia-se num blog, recentemente, a seguinte expressão:
“Eu salientei a diferença qualitativa entre exprimir opiniões e fazer mal às pessoas e defendi que a tolerância é a defesa das liberdades individuais e não o direito de exigir que não se diga mal das coisas que gostamos.”

E, pouco depois, acrescentava até:
“Decidir o que os outros podem ou não podem dizer é que é intolerância.”

A peça da blogosfera em causa, referia-se a uma palestra, ao que percebi, numa escola secundária, onde, entre os oradores ladeavam católicos (e nessa condição aí estavam) e ateístas.


Começa logo por ser incongruente: o que fazem os ateístas numa discussão sobre religiões?
É que, se um ateísta não acredita na existência de Deus (seja qual for a Sua definição), como se justifica que ele aceite participar numa conferência sobre algo que, para ele, não existe!?


Não sei se isto se deve adjectivar, apenas, com um simples: “ absurdo”!!!
Até aqui, tudo bem. Há quem, por condição, esteja dispensado de ser congruente e escorreito nos seus pensamentos, e até, no seu discurso.
Ora, considerar que aquilo que se diz (as opiniões) não ferem (“fazem mal”) às pessoas, seria extremamente conveniente ao direito. Quantos crimes temos tipificados no nosso direito, por meras palavras, por simples afirmações?

“Fazer mal a…”, é sinónimo de “provocar sofrimento em:…” . Há ditos, opiniões, expressões e actos que ferem e provocam sofrimento muito superior a uma agressão física.

Sempre que os meus actos, comunitários, públicos ou privados, forem lícitos, socialmente enquadrados e civilizacionalmente aceites, tenho todo o direito de exigir que eles sejam respeitados e estejam resguardados do insulto, da difamação, da desonra, do enxovalho, do escárnio e da zombaria, mesmo que disfarçada de “liberdade de expressão”, mascarada de produção artística ou travestida de uma cogitação intelectual/filosófica, propositadamente ofensiva.
É por isso que cabe ao legislador balizar a liberdade de expressão de pensamento por contraponto ao respeito pela dignidade das pessoas, seus actos, seus pensamentos e suas práticas. E, só podemos reclamar tolerância quando estamos dentro da esfera do respeito pelo próximo.


Eu, pessoalmente, não acredito em astrologia, mapas astrais, signos do Zodíaco, influência dos astros na vida das pessoas, e tudo o que com isso se relacione. Porém, nunca ninguém me ouviu, ouve ou ouvirá insultar quem acredita, aceita ou usa tais práticas. Corno não recorro aos seus serviços, não sei o suficiente para, sequer, emitir um juízo de valor sobre tal assunto. Se não acredito, nada existe aí que possa gerar o meu interesse, muito menos a minha revolta contra quem acredita.
Lá porque eu não acredito, não tenho o direito de condenar, enxovalhar, ofender, provocar ou insultar quem acredita, os seus rituais ou as suas práticas.
Nunca fui prejudicado pela astrologia, nem emito juízos de valor sobre ela, muito menos sobre quem acredita ou pratica.


Ora, era (exactamente) esta a atitude que eu esperava de um ateu, minimamente educado, instruído, pensante e civilizado – não acredita, logo não se pronuncia, nem se dedica a combater algo em que não acredita.

Infelizmente, mesmo contrariando os meus princípios, como católico e ante tais comportamentos, sou obrigado a tomar alguns ateus por arruaceiros sem princípios, portadores de uma infantil falta de personalidade e com umas postura social pueril, situada entre a incitação à delinquência e os devaneios mórbidos dos insanos mentais.
A tolerância funda-se na coabitação (social, cultural e geográfica) entre ideias, visões e vivências diversas de uma mesmo facto. E nunca no combate à existência de factos sociais e culturais instituídos, muito menos por estranhos á questão.
É aqui que os ateístas perdem toda a razão: é aceitável que as religiões se digladiem nas razões que levam a ter a sua visão de Deus como a correcta, e tentar propagá-la. Mas, não é razoável nem admissível que uma entidade que nega a existência de Deus, também entre na disputa.


Perdoe-se esta comparação!
Estamos perante uma falácia do género: Porto, Benfica e Sporting disputam o campeonato, mas agora aprece um grupo de anti-futebol (sem estádio, sem bola e sem equipa) a querer participar no campeonato, para acabar ele e tentar destruir o futebol, só porque não acredita nas virtudes de tal desporto, e é contrária à sua existência ou à sua filosofia.

Tenham paciência, senhores ateístas: têm toda a liberdade de "ser ateus" e de filosofar, mas não queiram armar-se em facção religiosa, muito menos colocar-se em pé de igualdade com as religiões – cada macaco em seu galho!

3 comentários:

Isto é uma experiência disse...

Zeca,

"Começa logo por ser incongruente: o que fazem os ateístas numa discussão sobre religiões?"

Têm tanto ou mais direito que um padre pronunciar-se sobre questões de família ou educação de crianças, visto terem feito o voto de castidade.

Zeca Portuga disse...

Carissimo comentador:
A familia não é apenas composta pelos filhos e conjuge: os irmãos, eventualmente ainda crianças, os sobrinhos, os primos, os pais... tudo isso é familia.
Por outro lado, cabe exactamente ao padre ser o guia espiritual da educação cristã - nomeadmente pela catequese.

Isto é uma experiência disse...

Zeca,

Talvez não tenha sido muito preciso no comentário que fiz. Peço desculpa por isso. Vou então reformulá-lo:

"Têm tanto ou mais direito que um padre pronunciar-se sobre questões conjugais (p.ex., aconselhando o método contraceptivo das temperaturas e proibindo o uso de preservativo) ou sobre que tipo de educação que os pais devem dar aos filhos alegando ser a melhor forma de criar um filho."