sábado, 29 de novembro de 2014

Sócrates: de poderoso arrogante a enxovalhado de forma cobarde e vil.

Não gosto de injustiças, abusos, hipocrisia e aproveitamento difamante de factos supostos ou desconhecidos.

Neste momento, tenho por Sócrates um sentimento misto – não sei se é justo ou não, mas desaprovo o que lhe está a acontecer.

Cada vez que regresso a este cantinho Luso, tenho pela frente um história rocambolesca.

Nunca gostei de governação de José Sócrates. Considero que todas as suas políticas eram propositadamente arrogantes e ofensivas: desde os pérfidos ataques aos direitos adquiridos até ao casamento da paneleirada, tenho muito a criticar-lhe.

Sócrates destruiu, definitiva e irreparavelmente, a minha crença num futuro em que o país seria mais justo, mais fraterno, mais desenvolvido, onde as pessoas teriam mais qualidade de vida e onde o amanhã seria melhor do que o ontem.

Definitivamente, tudo isso acabou. A minha geração será sacrificada, os filhos desta geração viverão pior do que nós, e os netos viverão muito pior ainda do que os filhos desta geração. Ou seja, entramos na espiral regressiva da civilização, embora a sociedade consumista possa triunfar e o turbo-capitalismo selvagem, onde o Homem é uma peça numerada e sem valor, tenha oportunidade de, matematicamente, controlar as contas do país.

Por tudo isto, não tenho grande afeição por José Sócrates – o político.

Mas, os últimos acontecimentos deixam-me com uma visão diferente sobre o cidadão José Sócrates Pinto de Sousa.

Sinto-me indignado com a forma como o arrastaram pela lama, como foi linchado na sua imagem e na sua dignidade o cidadão José Sócrates.

Na eventualidade dele ter cometido crimes*, terão sido de ordem económica/financeira. Não o acusam de crimes contra as pessoas. Mas, os “media” transformaram a sua história numa espécie de novela, onde se lida com o criminoso mais biltre, mais procurado e mais perigoso do país.
É curioso que os “media” atacaram Sócrates com base num crime que tem ficado sempre impune – a violação do segredo de justiça. Nem por isso se insurgem contra esse crime, colocando na mesa os “bufos” das altas esferas do sistema judicial português.

É uma imbecilidade, uma verdadeira aberração e a negação da dignidade que deveria pautar a atitude dos “media”, ver, por exemplo, um plantão de jornalistas à porta do estabelecimento prisional, a fazer comentários como: “Sócrates almoçou massa!”
Para este tipo de jornalismo, acho que seria mais apropriado um relato do tipo: “Sócrates usou papel higiénico soft de 4 folhas”.

Estou plenamente convencido que Sócrates está pagar o preço de ter mexido com a “classe” dos magistrados. Devia ter sabido que quem mexe com essa “classe”, mais tarde ou mais cedo, tem problemas.

Se Sócrates é suspeito de cometer algum crime, o lugar e o papel dos “media” sérios e honestos será a sua divulgação, mas apenas quando existir uma acusação formal e sustentada de tais crimes, fazendo sempre valer e prevalecer a presunção de inocência. 
Não admito que um imbecil jornalista, abusando do poder dos “media”, acuse, julgue e condene, seja Sócrates ou qualquer outra pessoa, antes do tribunal se pronunciar sobre a ilicitude que quaisquer actos. Pior ainda: é indigno e intolerável que estes ignominiosos comportamentos tenham como suporte um crime – a violação do segredo de justiça -, que continua descarada, impune e, quiçá, proveitosa para alguns.

Por tudo isto, mesmo não gostando nada de Sócrates, estou com ele e ficaria muito satisfeito se se provasse que tudo isto não passa de um cobarde linchamento público.


* - Crime é aquilo que a lei tipifica como tal, à data em que ocorreram os factos, e não aquilo que cada um gostaria que fosse.